Depoimentos

Depoimento de Suely Gomes Costa

Data Hora Inserção: 21/08/2013 - 21:01:26

Título:
Conheci o Prof. Ciro no mestrado em História na UFF...

Depoimento:

Conheci o Prof. Ciro no mestrado em História na UFF – fui da turma que entrou em 1983, perfilando-me aos estudos da industrialização.

Nesse período,  o Prof. Hector Brignoli,  seu amigo e colaborador veio para a UFF e deu cursos  articulados ao dele. Fiz todas as matérias do Ciro e do Hector . Amei-as; aprendi como nunca. E não preciso nem falar da excelência das aulas do Ciro; essa era uma de suas marcas. Ao fim do curso, pelo meu entusiasmo, fiz uma homenagem aos dois e à turma na minha casa; eu morava então na r. Miguel de Frias, ao lado da reitoria.  Foi uma tarde muito agradável. Não sei se alguém fotografou.

Sua presença nos  estudos do meu tema de mestrado é  inestimável:  transição do trabalho artesanal para o fabril - o caso do RJ, na perspectiva da longa duração. Ajudou-me muito!

Sua cultura me fascinava... Admirei-o muito também através da Profa. Eulália Maria L. Lobo, minha amada orientadora, sua amiga e admiradora.  Assim,  li tudo que ele publicara. Comprei seus livros, inclusive essasua recente e última brochura:  uma reflexão sobre a Antropologia.

Com ele, minha cultura marxista ampliou-se, ainda que nem sempre concordasse com suas abordagens... Tornei-me thompsiana e, por isso,  menos economicista. Mas tb sabendo que  “toda a unanimidade é burra” (Nelson Rodrigues), a diferença que mantivemos nunca me importou: só fertilizou  ideias... Nunca deixei de admirá-lo. Assim, no doutorado,  fui ouvinte de seu curso sobre análise de discursos; mais uma surpresa: seu interesse quase juvenil por “novidades” das técnicas de pesquisa... Isso surpreendeu-me.  Sabe? Vi-o como  um ser antenado  com as coisas de seu tempo!

Devo-lhe leituras seminais sobre o Brasil. Elas me foram fundamentais para a tese de doutorado e para minha cultura histórica em geral. Com muita honra, convidei-o e tive-o na minha banca – a tese trata das  economias de tempo. Foi extremamente estimulante!  Antes do exame, chamou-me, discretamente,  num canto, e mostrou-me um relógio de sol...Um gesto cheio de carinho, como que me dizendo: sei bem do que fala...  Na minha banca , concedeu-me mil estímulos e creio, foi o melhor desse meu exame.

Sempre em tom de blague, implicava com os meus estudos de gênero... Mas nunca o quis mal por isso. Ria com ele... Eram obsevações sérias com ar de brincadeira ... Ele achava tudo muito comprometido com ideais  feministas... Em parte,  teve razão... mas só em parte... 

Por seu estilo e sua sinceridade, seu carimbo,  sempre gostei muito dele, pessoalmente. Lamento não ter sabido ser mais próxima dele... (Ou será que ele é que se protegia dessa proximidade? ) 

Embora fossemos  vizinhos, aqui no Ingá,  nunca nos aproximamos mais intimamente . Fui só uma vez a sua casa, mas não passei da porta: fui entregar-lhe algo de que não me lembro mais...

Acho que esse era o seu modo de ser.  Assim mesmo e apesar de tudo: adorável!

Obrigada por esse memorial! Nada mais pertinente para quem tanto semeou...e também soube cativar...embora tenha partido sem saber quanto...